Por Fabiano Rocha, M.Sc., Mestre em Economia
Bilhões de reais são liberados todos os anos pelos bancos de desenvolvimento para que investimentos em setores definidos como estratégicos sejam concretizados.
A principal via de acesso à esses recursos é o Projeto de Negócios, que visa demonstrar ao banco o potencial de demanda do negócio financiado pelo mercado consumidor, sua viabilidade técnica, administrativa e econômico-financeira e a capacidade que possui para gerar emprego e renda.
Para avaliar se um projeto garante os critérios de sustentabilidade econômico-financeira exigidos pelos bancos, as diversas instituições de desenvolvimento fazem uso de inúmeros indicadores contábeis e financeiros.
É mister que o Consultor de Negócios ou o Executivo da Empresa saiba interpretar cada indicador, inclusive para entender as possíveis fraquezas que a atividade projetada possa apresentar.
Dessa forma, o objetivo deste artigo é dar uma noção geral sobre alguns índices contábil-financeiros utilizados pelos bancos na avaliação de Projetos de Negócios.
Abrangeremos os quatro grandes grupos de índices (Índices de Liquidez, Índices de Endividamento, Índices de Rentabilidade e Índices de Atividade) e mais alguns também importantes para avaliação de investimentos.
Antes de vermos os indicadores, é salutar sabermos que os mesmos não devem ser analisados individualmente, mas de forma complementar. As diversas atividades produtivas possuem peculiaridades intrínsecas e portanto o funcionamento dos índices irão variar de acordo com estas características.
1 – Índices de Liquidez
Mostram a capacidade que a empresa possui de honrar seus compromissos. Atenção maior deve ser dada às obrigações de curto prazo.
1.1 – Índice de Liquidez Corrente (ILC)
ILC= Ativo Circulante / Passivo Circulante
Esse índice procura demonstrar a capacidade de pagamento da firma no curto prazo. O ideal é que ele seja superior a 1 (ou superior a 100%), evidenciando um ativo circulante maior e suficiente para quitar as dívidas de curto prazo. Um índice menor que 1 (ou menor que 100%) revela insuficiência de fundos para pagamento de dívidas no curto prazo.
1.2 – Índice de Liquidez Seca (ILS)
ILS = (Ativo Circulante-Estoques) / Passivo Circulante
A interpretação desse indicador é semelhante à do ILC, porém, pelo fato de diminuirmos os estoques, o resultado obtido é mais realista. Na verdade esse índice trata de uma visão mais conservadora da capacidade de pagamento da empresa no curto prazo, pois evita o risco relativo à incerteza da venda dos estoques.
1.3 – Índice de Liquidez Imediata (ILI)
ILI = Disponibilidades / Passivo Circulante
Disponibilidades compreendem o que a empresa possui em Caixa e em Bancos, ou ainda em aplicações de curtíssimo prazo. São recursos disponíveis de imediato para a empresa usar da forma que desejar.
O índice em questão revela a quantidade de dinheiro que a forma possui para quitar dívidas de curto prazo. Economistas afirmam que esse indicador deve ser tanto menor quanto possível, pois manter dinheiro em Caixa e em conta bancária significa perder rentabilidade.
1.4 – Índice de Liquidez Geral (ILG)
ILG = ( Ativo Circulante+Realizável a Longo Prazo) / (Passivo Circulante+Exigível a Longo Prazo)
Demonstra a saúde financeira da firma no longo prazo. Deve ser sempre analisado juntamente com o ILC, pois fatores como ciclo operacional e fluxo de caixa podem influenciar no resultado do índice.
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2 – Índices de Endividamento
Estabelecem relações entre o capital próprio (patrimônio líquido) e capital de terceiros (endividamento).
2.1 – Participação de Capital de Terceiros sobre Recursos Totais (PCTRT)
PCTRT = (Passivo Circulante+Exigível a Longo Prazo) / Ativo Total
Demonstra quanto do ativo é financiado com recursos de terceiros. Quanto menor o quociente melhor, pois a firma estará menos endividada e com uma saúde financeira mais favorável ao pagamento de dívidas.
2.2 – Grau de Endividamento (GE)
GE = Passivo Exigível Total / Patrimônio Líquido
Revela o grau de dependência da firma com relação a capital de terceiros. O ideal é que esse índice seja sempre menor que 1.
2.3 – Composição do Endividamento (CE)
CE = Passivo Circulante / Passivo Exigível Total
Denota o endividamento no curto e longo prazo. Analistas afirmam que esse índice deve ser tanto menor quanto possível, pois assim a maior parte das dívidas da firma serão de longo prazo, o que, por si, gera uma situação mais confortável para geração de recursos e pagamento dos compromissos.
3 – Índices de Rentabilidade
Calculam o retorno auferido pela empresa na utilização de seus ativos, em determinado espaço de tempo.
3.1 – Margem de Lucro
3.1.1 – Margem Líquida (ML)
ML = Lucro Líquido / Vendas Líquidas
Calcula quantos centavos restaram, para cada um real de venda, após a dedução de todas as despesas (inclusive imposto de renda). Também comumente chamado de Lucratividade, pois apura quantos centavos se ganha a cada real vendido. Quanto maior esse índice, melhor.
3.1.2 – Margem Operacional (MO)
MO = Lucro Operacional / Vendas Líquidas
Também chamado de Lucros Puros, mede a margem de lucro relacionada estritamente com a atividade fim da empresa. Quanto maior esse indicador, melhor.
3.1.3 – Custo Total e Receita Operacional Líquida
CTROL = Custo Total / Receita Operacional Líquida
Estabelece uma relação de eficiência das operações da empresa em contraponto ao custo ocorrido. Quanto menor esse indicador, melhor.
3.2 – Giro do Ativo (GA)
GA = Vendas Líquidas / Ativo Total
Também chamado de Produtividade, a ideia aqui é que, quanto maior o índice, melhor, pois a empresa está vendendo mais que os investimentos realizados em seu ativo. Mostra o quanto foi vendido para cada real investido. Isso significa uma gestão eficiente.
OBS: por vezes o “Ativo Total Médio” é utilizado no quociente deste índice. O “Ativo Total Médio” pode ser calculado da seguinte forma:
Ativ.Tot.Méd.= (Ativo total do início do exercício+ativo total do final do exercício) / 2
3.3 – Retorno Sobre o Ativo (ROA)
ROA= Lucro Líquido / Ativo Total
É o lucro auferido mediante os investimentos realizados no ativo da empresa. Investimentos são as ações tomadas no sentido de obter lucros (Retorno). Esse índice é interessante para avaliar a lucratividade da empresa como um todo, independentemente de onde vierem os recursos aplicados. O resultado desse indicador reflete o poder de ganho da empresa, ou seja, para cada real investido no ativo foi gerado determinado ganho.
3.4 – Retorno Sobre o Investimento (ROI)
ROI= Lucro Operacional / Ativo Operacional
É o lucro auferido mediante os investimentos realizados no ativo operacional da empresa, ou seja, apenas nos ativos destinados à manutenção da atividade operacional da firma.
OBS: por vezes o “Ativo Operacional Médio” é utilizado no quociente deste índice. O “Ativo Operacional Médio” pode ser calculado da seguinte forma:
At.Op.Médio = (At.Op.início do exercício+At.Op.final do exercício) / 2
OBS: O ROI e o ROA permitem a comparabilidade entre empresas de qualquer tamanho, pois o que importa é o retorno gerado sobre aquilo que está sendo aplicado.
3.5 – Rentabilidade do Investimento Total (RIT)
RIT= Lucro Líquido / Investimento Total
Constitui um outro parâmetro de análise do retorno do investimento feito, auferindo o lucro obtido para cada real investido. Quanto maior este indicador, melhor. Medido em termos percentuais.
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4 – Índices de Atividade (ou Rotatividade)
Medem a rapidez com que vários itens são convertidos em vendas ou caixa. São úteis na implantação das políticas de crédito e cobrança da empresa.
4.1 – Prazo Médio de Rotação de Estoques (RE)
RE= (Estoque Médio / CMV) x 360
Onde:
Estoque Médio = (Estoque Inicial + Estoque Final)/2;
CMV = Custo da Mercadoria Vendida.
Denota o período compreendido, em dias, entre o tempo em que o produto está armazenado até o momento da venda. Quanto menor, melhor, pois indica maior volume de vendas e mais rápida recuperação do ativo.
4.2 – Prazo Médio de Recebimento de Vendas (PMRV)
PMRV= (Duplicatas a Receber / Receita de Vendas ) x 360
Calcula quanto tempo em média, e em dias, a empresa leva para receber suas vendas. Depende diretamente dos prazos que a firma concede para pagamento, mas o ideal é que seja tanto menor quanto possível, justamente para não comprometer o capital de giro.
4.3 – Prazo Médio de Pagamento (PMP)
PMP= (Fornecedores / Compras) x 360
Prazo médio compreendido entre o momento da compra e seu pagamento. Em geral, quanto maior, melhor. Relaciona-se às condições de crédito obtidas pela empresa.
4.4 – Giro do Ativo (GA)
GA= Vendas Líquidas / Ativo Médio
Calcula quantas vezes o ativo foi recuperado mediante as vendas em determinado período. Em geral, quanto maior, melhor. Contudo, deve ser sempre avaliado em conjunto com o ramo de atividade em que a firma se enquadra.
4.5 – Ciclo Financeiro (CF)
CF = PMRE + PMRV – PMP
Calcula o período compreendido entre os pagamentos de seus compromissos e o recebimento de clientes. O ideal é que esse período não seja muito dilatado, pois pode prejudicar o fluxo operacional da empresa.
5 – Outros Indicadores
Seguem alguns indicadores que, apesar de estarem fora dos grandes grupamentos de indicadores, possuem vital importância na análise de investimentos.
5.1– Taxa Mínima de Atratividade (TMA)
É a melhor taxa disponível no mercado para aplicação do capital, com o menor nível de risco possível. É usada para o cálculo do Valor Presente Líquido (VPL).
A ideia aqui é saber que não é interessante manter recursos disponíveis em caixa, pois não haverá rentabilidade. Portanto, a empresa busca no mercado opções para aplicação de seus recursos, e decidirá com base em dois cenários: investir no Projeto ou na TMA. Ou seja, para que a firma decida por investir em um projeto, os ganhos gerados pelo Projeto ao longo do tempo devem ser maiores que os ganhos gerados pela aplicação dos recursos à TMA.
Podem, dentre outras, servir como TMA:
– TR = Taxa Referencial;
– TJLP = Taxa de Juros de Longo Prazo;
– SELIC = Sistema Especial de Liquidação e Custódia.
Dessa forma, o fluxo esperado de benefícios a serem gerados durante o período de recuperação do investimento deve ser maior que o investimento realizado.
Σ(Fluxo Esperado de Benefícios) > Valor do Investimento
Mas não podemos comparar valores em tempos distintos. Para isso, procedemos uma relação de equivalência para posicionar todos os valores em uma única data no tempo. Essa é a função do cálculo do VPL, trazer todo o fluxo financeiro para uma data escolhida.
VPL= -Io + ∑FEj/(1+TMA)^j > 0
Onde:
– VPL = Valor Presente Líquido;
– I0 = Investimento Inicial;
– FEj = Fluxo Esperado no tempo j;
– TMA = Taxa Mínima de Atratividade.
Percebe-se que quanto maior a TMA, para que o VPL continue positivo, maior terão que ser os fluxos esperados. Nesse cenário o investimento em um Projeto fica praticamente inviável.
5.2 – Índice Benefício / Custo (IBC)
IBC= (Valor Presente do Fluxo de Benefícios) / (Valor Presente do Fluxo de Investimentos)
Relação simples de quanto se espera auferir para cada real investido.
Se IBC > 1, deve-se aceitar o investimento.
Se IBC < 1, deve-se rejeitar o investimento.
5.3 – Taxa Interna de Retorno (TIR)
É a taxa que torna o VPL de um fluxo de caixa igual a zero.
VPL= -Io + ∑FEj/(1+i)^j = 0
Onde:
– VPL = Valor Presente Líquido;
– I0 = Investimento Inicial;
– FE = Fluxo Esperado;
– i = Taxa de Juros.
Se a TIR > TMA, implica dizer que há maior retorno investindo no Projeto que aplicando os recursos à uma taxa praticada no mercado. Do contrário, não vale a pena investir no Projeto.
5.4 – Tempo de Recuperação do Investimento (PAYBACK descontado)
Calcula o número de períodos de tempo necessários para que os fluxos de benefícios gerados, descontados por uma taxa de juros, superem o capital inicial investido.
PB = -Io + ∑FEj/(1+i)^j = 0
Onde:
– PB = Payback;
– I0 = Investimento Inicial;
– FE = Fluxo Esperado no tempo j;
– i = Taxa de Juros.
O PB será o tempo j respectivo quando a diferença estabelecida na equação acima seja igual a zero. Será preferido aquele investimento que possua o menor prazo de retorno, porém, sempre deve-se observar as nuances de cada atividade produtiva.
Exemplo:
Investimento Inicial = 50
Fluxos Esperados: Ano 1 = 10; Ano 2= 40; Ano 3 = 20; Ano 4 = 50; Ano 5 = 100.
Taxa de Juros = 15% aa. (Essa pode ser também a TMA).
PB= -50 + (10 / (1+0,15)^1) + (40 /(1+0,15)^2) + (20/(1+0,15)^3)
PB= -50 + 8,70 + 30,25 + 13,15 = 2,1
Observe que no período 3 o fluxo já se torna positivo. Contudo, podemos ver que não são necessários três anos para se recuperar o investimento. Para se calcular o fator fracionário, podemos utilizar uma interpolação simples:
No ano 3 foi gerado lucro de 13,15.
Para se recuperar o investimento (tornando PB = 0), precisávamos de apenas 11,05 (= -50 + 8,7 + 30,25). Logo:
Em um ano foi gerado lucro de → 13,15
Em x foi gerado lucro de → 11,05
13,15x = 1 x 11,05 → x = (11,05/13,15) = 0,85
Por fim, o PB é igual a 2,85 anos, ou seja, 2 anos e 10 meses.
5.5 – Custo do Emprego Gerado (CEG)
CEG= (Investimento Total) / (Número de Empregos Gerados)
Visa estabelecer uma relação de custo/benefício. Está diretamente relacionado à atividade desenvolvida, porte do projeto e tamanho da empresa.
5.6 – Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC)
Focado na estrutura do Passivo, representa o custo de financiamento de longo prazo de uma empresa.
Primeiramente torna-se necessário conhecer o percentual dos custos relacionados a cada item de financiamento. Posteriormente, esses percentuais são aplicados no cálculo ponderado.
Ex:
Empréstimos = R$ 300.000,00 (30%) ao Custo 12%
Capital Social = R$ 700.000,00 (70%) ao Custo de 18%
CMPC=0,3 x 0,12 + 0,7 x 0,18 = 0,036 + 0,126 = 0,162 = 16,2%
A taxa de retorno ao Investimento deve ser maior que seu CMPC.
5.7 – Lucro Líquido e Valor dos Insumos
LL/VI = Lucro Líquido / Insumos
Medida de rentabilidade que relaciona o lucro obtido pela empresa e seu gasto com aquisição de insumos aplicados na produção. Vai variar de acordo com o porte do negócio, mas em geral, quanto maior melhor.
5.8 – Lucro Líquido Incremental (LLI)
LLI = Lucro Líquido Final – Lucro Líquido Inicial
Visa quantificar o ganho incremental auferido pela empresa mediante o investimento realizado. O Lucro Líquido Final corresponde ao lucro líquido auferido no último ano projetado. Já o Inicial refere-se ao ano 0.
5.9– Custo com Mão de Obra Incremental (CMOI)
CMOI = Custo com mão de obra final – Custo com mão de obra inicial
Estabelece a adição dos gastos com mão de obra em virtude do implemento do projeto de financiamento. O custo com mão de obra final corresponde ao gasto com mão de obra no último ano da implantação do projeto. Já o inicial refere-se ao ano 0.